Localizado
nos extremos do município de Marechal Thaumaturgo, nas proximidades de divisão
territorial do município de Jordão e território peruano; o Santuário de Nova
Olinda é um lugar que recebe peregrinos de todos os municípios do vale do Juruá
e de outras municipalidades acreana e da região norte.
Chegar
ao santuário sagrado é para poucos, para quem tem coragem, disposição, vigor
físico, força de vontade e muita fé. Os caminhos que levam a Nova Olinda são
desafiadores – arrastando canoa por águas que mediam 3 cm de profundidade no
Rio Caipora, pelos desafiadores salões de pedras, subindo as embarcações em
cachoeiras de cerca de 3 e 5 metros de altura, abrindo canal com machado e
terçado, acampando no meio da floresta e caminhando mais de 07 (sete) horas
ininterruptas...
Os
caminhos que levam ao Santuário das Almas de Nova Olinda parte inicialmente do
Munícipio de Marechal Thaumaturgo subindo mais de 05 (cinco) horas o alto Rio Juruá,
até chegar a um de seus afluentes, nomeado como Rio/Igarapé Caipora.
Já
nas águas do Rio Caipora, um dos pontos de referência é a localidade do Sr.
Mago e sua acolhedora família – os quais são um dos últimos moradores do
referido rio; moram em uma linda localidade, em uma casa de madeira rodeada de
várias arvores frutíferas e banhadas pelas águas do Rio Caipora e do Igarapé
Acapu.
O
Sr. Mago foi o nosso guia oficial. Foram dois dias subindo rio acima, a pouco
volume das águas, muito dificultou a viagem: arrastando canoa por pedra, paus e
praia; rolando troncos de madeira para abrir passagem com machados e terçados.
Por duas noites dormimos em acampamentos as margens do referido rio.
No
terceiro dia de viagem chegamos ao lugar aonde deixam as embarcações. É hora de
seguir caminho a pé, em uma trilha aberta no meio da floresta totalmente
intocada pelo homem, com lugares de tirar folego de tanta beleza e cansaço.
A Trilha – 07 Horas de Caminhada
Passados
os desafios da viagem de canoa, hora de colocar o pé na trilha e caminhar por
mais de 07 (sete) horas – ida e vinda. Mesmo cansados da exaustiva viagem, logo
se vestimos e nos calçamos para enfrentar a desafiadora trilha.
São
muito os obstáculos da trilha: pontes, igarapés, ladeiras desafiadoras, animais
silvestres, tronco de arvores caídas no meio do caminho.... Porém, alguns lugares
nos remetiam a cenário de deslumbrantes e fascinantes.
Na
floresta, até então intocada pelo homem, um lugar denominado “Terra Rica” nos
tirou o folego – ora pelo cansaço de subir mais de mais de 20 (vinte) metros e
ora pela beleza extraordinária do lugar. Um leito de terra de mais ou menos 200
(duzentos) metros de comprimento, contendo um corredor composto de 16 (dezesseis)
gigantescos aguanos – a madeira/arvores nobre.... Um lugar de transpirar paz,
tranquilidade e repor as energias.
Local
que nos deu força e animo para continuarmos a viagem, para minutos depois
chegarmos ao místico Santuário das Almas do Nova Olinda.
O
Santuário – A Casa dos Milagres, o Tumulo, as Cruzes, o Silencio e a Conexão
Com o Sagrado.
Chegando
ao Santuário avista-se uma misteriosa casa, três cruzes grandes e uma sepultura
as margens do rio. Um silêncio estarrecedor paira no ar. Uma conexão automática
acontece e os pensamentos e o coração são quem guias as nossas falas.
Primeiro
visitamos a “casa dos milagres”, aonde os devotos deixam as oferendas pelos
milagres recebidos: roupas, cordões e anéis de ouro, dinheiro, terços,
artesanatos, fotos, caixa de fogos, braços, pernas e troncos feitos de madeira,
dentre muitos outros.
Ao
lado da casa, nas margens do Rio; o Tumulo – a sepultura de dois irmãos. Lugar sagrado
aonde ascendem as velas, e armazenam as oferendas (roupas, cabelos, cordões e
outros). Nesse momento as palavras cessam e o silencio aumentam ainda mais. As
únicas vozes ouvidas foram das orações do terço. O momento e o lugar não
permitem conversa altas, ela acontece no pensamento, no coração, com o Deus Pai
e as Almas de Nova Olinda.
O
Banho – Lavar o Corpo e a Alma.
A
despedida do Santuário acontece com um banho, nas águas sagradas do Rio
denominado São Luiz ou Machadim. Hora de lavar a corpo e a alma... Hora de agradecer,
hora de renovar a fé e as forças para encarar os desafios obstáculos da vida.
A
sensação é de deixar um fardo para trás. O corpo fica leve, o espirito quer paz
– se acontece com todos – não sei, mas comigo sim! As roupas que tomamos o
banho são deixados no tumulo, como oferenda, como simbolizasse um batismo, uma nova
vida, ou novas forças e fé renovada.
Segundo relatos de
moradores mais antigos, residentes do Rio Caipora e comunidades vizinhas, o
local (Satuário de Novs Olinda) é considerado milagroso, porque, certo dia três
irmãos vindo do Ceará, foram limpar uma estrada para cortarem seringa. Nesse
percurso eles foram surpreendidos por índios não civilizados, que atacaram os
mesmos, deixando dois mortos e um ferido.
O terceiro irmão –
que ficou ferido só escapou devido ter se escondido “enterrado” nas areia de
uma praia de um igarapé. Nesse esconderijo, o mesmo fez uma promessa para São
Francisco e assim, os índios não conseguiram encontrá-lo.
Após os índios
terem desistido de caça-lo, o sobrevivente saiu a procura de ajuda no seringal
Restauração (hoje Vila) para fazer o sepultamento de seus dois irmãos, aonde o
patrão do referido seringal, chamou todos seus seringueiros para ir buscar os
corpos.
Passando mais de
uma semana, eles chegaram ao local onde seus irmãos estavam mortos. Eles
constataram que os mesmos estavam com os corpos em perfeita conservação, como
se eles estivessem morrido naquele mesmo momento.
Após essa
constatação, sepultaram os dois irmãos em um mesmo túmulo à beira do igarapé
São Luís (machadin). De lá para cá, o Santuária de Nova Olinda vem sendo um
local considerado milagroso pelos seus fiéis. Até hoje, nessa sepultura, as
pessoas rezam terços e acendem velas como forma de agradecimento pelo milagre
acontecido em suas próprias vidas.
Para os populares
que frequentam esse local e acreditam nesse milagre, a água do Rio São Luís são
consideradas milagrosas, aonde todos que vão até lá, devem se banhar,
simbolizando um batismo, retirando todos os males que estão impregnados no
próprio corpo.
Uma
Experiência Para a Vida
A
viagem/peregrinação ao Santuário de Nova Olinda é um daqueles momentos e
vivência que se leva para vida toda, com histórias a contar para filhos, netos
e bisnetos. A comida farta, feita as margens dos rios ou nos lugares aonde
pernoitamos, os acampamentos no meio da floresta, as pescarias, as histórias
das rodas de conversa antes de dormir, o café de madrugada ou no final da tarde
quando o acampamento estava pronto, os igarapés, os lugares, os desafios, os
obstáculos, as lágrimas e os risos... Momentos únicos, especiais e
inesquecíveis.
Trilhar
os desafiadores caminhos que levam ao Santuário de Nova Olinda – sejam por
águas, terra, areias/praias, pedras e troncos de madeira foi uma experiência
para a vida! Um incapaz de ser transmitido por palavras, e nem pudera – sob o
risco de perder o encanto e a magia desse lugar tão especial e extraordinário.
Por:
Cleudon França.
Registros
Fotográficos: Cleudon França.
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