“A história, a lembrança dos antigos, têm muita
importância para o povo Arara. Sua história está vinculada às correrias, às
guerras intertribais, ao parentesco, à organização social, aos costumes
tradicionais, às práticas de secessão e às migrações do grupo por um vasto
território”.
Apresentação
Chegamos ao 2º (segundo) artigo (em um total de cinco) da série que
fala dos povos tradicionais de Marechal Thaumaturgo, os quais são um total de
cinco (05): Ashaninka, Kuntanawa, Jaminawa Arara, Huni Kui e Apolima Arara.
No artigo em pauta, se aventuremos pela história do povo Jaminawa Arara,
também conhecido por Shawanawa. Suas
guerras e divisões, preservações da memória, a convivência com o homem branco,
a agregação de habilidades e preservação dos costumes tradicionais, o
artesanato, cosmologia e os tempos atuais de tradição e saber.
Origem
O povo Arara é oriundo da família linguística Pano. Seu território
localiza-se no município de Marechal Thaumaturgo, Acre, com uma população de
378 pessoas, numa área delimitada e demarcada de 28.926 hectares.
Autodenominam-se Jaminawa Arara, sendo conhecido também por Shawanawa,
Arara, Xawanaúa, Xawaná-wa, Chauã-nau, Ararapina, Ararawa, Araraná, Ararauá e
Tachinauá. Sua organização espacial no interior da terra indígena está
distribuída em uma aldeia - Sirqueira e três comunidades, Bom Futuro, Buritizal
e São Sebastião.
Formam grandes conglomerados populacionais com residências nas aldeias e
comunidades. Esta forma de ocupação permite maior facilidade para transportar
os produtos de primeira necessidade e facilitar no deslocamento até as cidades.
Além disso, há também a predominância de fatores culturais e produtivos, bem
como diferenças entre grupos, levando-os a permanecerem em aldeias distintas.
Mais do que isso, tal distribuição espacial favorece as atividades de
subsistência, diminuindo as dificuldades para o transporte de doentes, mas traz
a escassez de caça, pesca, prática da coleta e agricultura por viver
socialmente juntos para facilitar o convívio grupal.
Guerras
e Divisões
Segundo a história oral dos Arara e as fontes históricas sobre o Alto
Juruá, o contato entre esse povo e os não-índios só ocorreu no início do século
XX. Mais precisamente em 1905, período em que estava sendo aberta uma estrada
que iria ligar Cocamera, no Tarauacá, a Cruzeiro do Sul.
Foi quando Felizardo Cerqueira e Ângelo Ferreira conseguiram, juntamente
com índios Yawanawa, Rununawa e Iskunawa, estabelecem contato com os Arara que
estavam localizados na região do igarapé Forquilha afluente da margem esquerda
do riozinho da Liberdade e estes entraram em contato com os índios do Rio bagé
e Riozinho Cruzeiro do Vale. Nesse período, os Arara residiam com os índios
Rununawa, sendo todos liderados pelo célebre tuxaua Tescon, que era casado com
a filha de um tuxaua Arara.
O padre francês Constantino Tastevin esteve no Alto Juruá, depois de
1912, deixando por escrito relatos da região e dos habitantes nativos. Em tais
relatos, Tastevin faz uma distinção entre os Arara do Tauari e os do Forquilha,
dando a entender que os Arara estavam divididos em mais de um grupo, ou em
diferentes aldeias de um mesmo grupo. Tastevin relata, ainda, as constantes
guerras intertribais travadas pelos Arara no início do século XX.
Sabe-se que os Arara empreendiam migrações ao longo dos rios Tejo, Bagé,
Liberdade e Amahuaca (riozinho Cruzeiro do Vale). Desses deslocamentos ocorreu
o combate que resultou na morte de Tescon, em 1914, devido a um conflito com os
Arara.
Após a morte de Tescon, ocorreram ainda vários conflitos envolvendo o
grupo que era liderado por ele, obrigando, assim, os Arara a migrarem para as
proximidades dos rios Bajé, Tejo, Gregório e o riozinho Cruzeiro do Vale.
A
Preservação da Memória
A história, a lembrança dos antigos, têm muita importância para o povo
Arara, e as informações relativas a eles, em geral, estão vinculadas às
correrias, às guerras intertribais, ao parentesco, à organização social, aos
costumes tradicionais, às práticas de secessão e às migrações do grupo por um
vasto território.
Nem todo são araras , devido às guerras e aos casamentos intertribais
que fizeram com que indivíduos de outros povos passassem a fazer parte da Nação
Arara.
A região atualmente habitada pelo povo indígena Arara era território dos
grupos Pano, desde o período pré-cabralino, mas a partir de meados do século
XIX, passou a ser ocupada também por exploradores e comerciantes vindos de
Belém, Manaus e centros urbanos localizados ao longo do rio Solimões.
Entretanto, a exploração e
ocupação efetiva da região do Alto Juruá, ocorreu apenas nas duas últimas
décadas do século XIX, após vários embates com os grupos indígenas da região.
Nesse período, a região foi povoada principalmente por migrantes oriundos do
Nordeste brasileiro.
Em fins da última década do século XIX, o Alto Juruá já estava povoado
por brasileiros, quando peruanos “caucheiros” ocuparam a região.
O
Convívio Com o Homem Branco
Ao longo da segunda metade do século XX, os Arara estiveram sob o jugo
dos patrões. No final da década de 1980 ao início da de 1990, muitos Arara
migraram para as cidades, principalmente Cruzeiro do Sul, devido às precárias
condições de vida na terra indígena. Os longos anos de ocupação por não-índios,
fez mudar o antigo padrão de vida dos Arara.
No entanto, mesmo subjugados pelos patrões, a atividade produtiva
voltada para a produção da borracha e a dependência do sistema de barracões, os
Arara não abandonaram costumes tradicionais como a caça, a pesca, a agricultura
e a coleta.
Novos
Tempos: Agregando Habilidades e Preservação dos Costumes Tradicionais.
Decorrente do processo de colonização, instrumentos novos foram
inseridos a essas atividades, como machado, terçado, enxada, espingarda e
outros. Com isso, o povo Arara agregou habilidades como o uso de arma de fogo a
uma série de conhecimentos tradicionais sobre a floresta e sua fauna, e sobre
os modos de como um caçador obter sucesso em sua atividade.
Na produção econômica atual também criam animais destinados ao consumo familiar ou à venda. As atividades de coleta destinam-se à colheita de frutos silvestres para completar alimentação, de produtos medicinais, temperos para os alimentos, óleos vegetais e outros. Cultivam vários tipos de mandioca, milho, banana, mamão, cana-de-açúcar, inhame, cará, feijão, fava branca, arroz, batata-doce, plantas medicinais e temperos.
O
Artesanato Jaminawa Arara
Os Arara produzem também artesanato que, antes da dominação imposta
pelos não-índios, era confeccionado em grande escala, inclusive utensílios
domésticos, adornos e armas de caça e pesca. Alguns produtos artesanais como
anéis, pulseiras, colares e bolsas de tecido são comercializados .
Os igarapés Braço Esquerda e Rio Bagé, são de extrema importância para o
bem-estar econômico e cultural dos Arara. Seus afluentes e respectivas
cabeceiras coincidem com os limites da terra indígena, região onde são
exercidas atividades de caça, pesca, coleta e agricultura.
Os
Jaminawa Arara e a Cosmologia
Os rituais Arara possuem um forte vínculo com a cosmologia, mas são
principalmente os mitos que retratam melhor os aspectos cosmológicos do grupo.
Os mitos, contados principalmente pelos mais velhos, vêm a ser a forma própria
de transmissão do saber do povo. A narrativa dos mitos se dá nas línguas Arara
ou em português.
Tempos
Atuais: A Tradição e o Saber!
A tradição e o saber Arara dependem da preservação da sua terra, que vem sofrendo constantes invasões por regionais, causando conflitos latifundiários com a caça predatória. Por este motivo se faz urgentes controle, pois esta é a única forma possível de se garantir a liberdade e o direito de viver desse povo.
O Povo Shãwanawa ou Jaminawa Arara, encontra-se na Terra Indígena jaminawa-Arara no Rio Bagé munícipio de Marechal Thaumaturgo este território é reconhecido pelo governo estadual e federal. Esta terra é habitada por 378 pessoas em quatro aldeias do Clã Shawã, que em sua língua significa Arara.
Estes ocupam uma área de 28.926 hectares, seu território continua preservado assim como sua cultura.
Segue abaixo o registro fotográfico do
Povo Tradicional Indígena Jaminawa Arara de Marechal Thaumaturgo:
Referência: Blog Shawadawa.
Registro Fotográfico:Arquivo Pessoal
Cleudon França.
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