BANDEIRA DE MARECHAL THAUMATURGO EXPOSTA NA PRAÇA MUNICIPAL |
A jovem municipalidade de Marechal
Thaumaturgo foi resultado de grandes e inúmeras lutas, conflitos e até batalha
armada. A mais conhecida dela – motivo de orgulho e glória para todos os thaumaturguenses,
foi travada nos longínquos dias 03, 04 e 05 de Novembro de 1904, contra
militares peruanos instalados na Foz do Rio Amônia (Seringal Minas Gerais),
hoje sede de nossa bela cidade.
Foi dessa batalha armada e do sangue derramado de brasileiros e peruanos que nossa querida municipalidade
surgiu 88 (oitenta e oito) anos depois, no dia 28 de Abril de 1992, através do decreto
de Nº. 1029 (assinado pelo o Governador Edmundo Pinto, um mês antes de seu
assassinato) a partir de um desmembramento do município de Cruzeiro do Sul.
Sim...! Lutamos para ser acreano assim
como o Acre lutou para ser brasileiro! E dessa luta armada se fala muito da
bravura de audazes militares e seringueiros brasileiros que pegaram em armas para
dar cerco ao Seringal Minas Gerais (hoje Município de Marechal Thaumaturgo) rechaçando
o elemento estrangeiro ali dominante.
Dentre muitos bravos guerreiros estão o
Capitão Francisco D’Ávila e Silva comandante dos 40 (quarenta) praças
brasileiros no histórico episódio – um dos nossos ancestrais que desbravaram e
marcaram com sangue o limite do nosso Brasil.
Sua contribuição foi grande e
inestimável para formação da nossa pacifica e bela municipalidade na qual
residem atualmente 17.401 thaumaturguenses orgulhosos da história de lutas e
conquistas desse canto e recanto de Brasil.
Mas o tempo e até a própria história esqueceu-se
do bravo e audaz Capitão Francisco D’Ávila. Não há registro de monumentos
públicos com seu nome, e, sua história é até desconhecida de muitos os thaumaturguenses.
Como o objetivo do Blog THAUMATURGO NEWS
é Resgatar, Vivenciar, Registrar e Informar a história e as personalidades
desse encantador pedaço de Brasil; trago-lhes a importante participação do Capitão
Francisco D’Ávila e Silva na conquista do nosso território – do território do
hoje Município de Marechal Thaumaturgo!
PERUANOS
IGNORAM O TRATADO DE MODUS VIVENDI.
Por
dever de justiça o Destacamento Thaumaturgo de Azevedo deveria se chamar
Capitão Francisco d’Ávila e Silva como justo tributo ao Comandante da tropa que
investiu contra o Posto Militar e aduaneiro peruano ilegalmente edificado à Foz
do Amônia (antigo Seringal Minas Gerias e atual Município de Marechal
Thaumaturgo).
O
Coronel Thaumaturgo de Azevedo, estacionado na altura do Moa, atual Cruzeiro do
Sul, apesar de envidar todos os esforços diplomáticos possíveis não conseguiu
impedir que os peruanos continuassem a cobrar impostos e obrigassem as
embarcações brasileiras a substituir a Bandeira Nacional pelo pavilhão inca na
passagem pelo Rio Amônia, confluência com o Rio Juruá.
Thaumaturgo
decide dar um basta às estripulias peruanas instalando um Posto Fiscal do
Ministério da Fazenda no Foz do Rio Amônia – Seringal Minas Gerais, e para isso
determinou que o Capitão d’Ávila e Silva, acompanhado de um Alferes e 50 (cinquenta)
Praças armadas sem ostentação de força, empossasse os agentes financeiros do
Brasil no hoje Município de Marechal Thaumaturgo.
Chegando à Foz do Amônia, o Capitão D’Ávila
notificou oficialmente ao Comissário peruano Ramirez Hurtado os princípios
acordados no “modus vivendi” de comum acordo entre os dois países.
Ramirez Hurtado alegou que ignorava os termos acordados entre Brasil e Peru,
mas comprometeu-se a não mais cobrar impostos dos nacionais nem ordenar o arreamento
da Bandeira Brasileira de nossas embarcações, como vinha fazendo até então.
As
ordens de Thaumaturgo eram muito específicas, D’Ávila deveria tentar, por todos
os meios pacíficos possíveis, fazer cumprir o acordo binacional. Caso os
peruanos não concordassem, o Capitão Ávila estava autorizado a empregar a força
e instalar o Posto Fiscal do Ministério da Fazenda na Foz do Amônia (Seringal
Minas Gerais), cuja jurisdição se estenderia até à Foz do Breu, em território
já reconhecido como brasileiro pelo Peru, no “modus vivendi”.
Tão
logo Ávila retornou para o Moa, os peruanos recomeçaram a importunar os
brasileiros cobrando impostos e o hasteamento de sua bandeira nas embarcações
brasileiras. Thaumaturgo determinou, então, ao Capitão D’Ávila que retornasse a
Foz do Rio Amônia– Seringal Minas Gerais para dar um fim definitivo aos
desmandos peruanos.
CAPITÃO
FRANCISCO D’ÁVILA E SILVA:O COMANDANTE DA BATALHA DO AMÔNIA.
“Com a coragem de
seus ancestrais - Ao lutar se
mostraram viris - Desbravando e
marcando com sangue - Os limites do nosso
Brasil”. (Estrofe do Hino de Marechal Thaumaturgo).
No dia
27 (vinte e sete) de Outubro de 1904, o Navio Contreiras Moa zarpou de Cruzeiro
do Sul, sede do Governo do Departamento do Alto-Juruá. No quinto dia de viagem,
o Capitão Ávila recebeu aviso de que os peruanos, ao saberem que o Prefeito
Thaumaturgo de Azevedo mandara instituir um Posto Fiscal no Amônia – Seringal
Minas Gerais, estavam cavando trincheiras e erguendo fortificações para
resistir.
Ávila
acompanhado pelas 40 (quarenta) praças restantes, embrenhou-se na mata em
manobra estratégica para evitar a passagem em frente ao acampamento peruano e
atingir o Seringal Mississipi Novo, acima da Foz do Amônia.
O
Capitão Ávila reforçou seu efetivo com alguns seringueiros, abriu diversas
picadas, uma delas até a frente da força peruana e mandou seguir 20 (vinte)
praças, sob o comando do Furriel José Rodrigues da Fonseca e 30 (trinta) civis
dirigidos pelo ex-aluno da Escola Militar Oséias Cardoso, a fim de tomarem
posição à esquerda e à retaguarda do Posto peruano, enquanto outras 6 (seis)
praças e 8 (oito) civis iam ocupar uma trincheira em Vila Martins(margem
direita do Juruá, defronte do sítio dos peruanos). Mais 16 (dezesseis) praças e
10 (dez) civis deslocaram-se por outras frentes de ataque na proximidades do
Minas Gerais, que se localiza um pouco abaixo do Foz do Amônia.
A
disposição do terreno do acampamento peruano era boa para uma defesa militar.
Estendia-se numa área de dois quilômetros de extensão por dois de largo, no
ângulo formado pelo encontro do Amônia com o Juruá. Uma rua, com várias casas
de madeira entre as quais se destacava o Quartel, seguia, a uma distância
de 50 (cinquenta) metros, as margens do Rio captador, onde foram abertas
inúmeras trincheiras para a defesa do Porto. À beira do Amônia, em terreno
elevado, existiam outras trincheiras em forma de quadrilátero, sítio excelente
para repelir ataques.
Pela
madrugada do dia 04 (novembro, 1904), o Capitão Ávila e Silva partiu pelo
varadouro, de Mississipi Novo em demanda do Amônia. Pouco depois, pelo Rio,
baixaram o Tenente Guapindáia e seus prisioneiros, sendo, no caminho, chamados
a fala por um piquete peruano que só os deixou ilesos por interferência do
Alferes Ramirez (peruano), usado como refém. Pôde, assim, o grupo desembarcar
no Seringal Minas Gerais (margem direita do Amônia e esquerda do Juruá). Há
essa hora, o cerco do acampamento peruano estava completo.
O
Capitão Ávila, inspecionando as forças acantonadas em Vila Martins, foi o
primeiro a receber uma salva de 10 (dez) tiros de fuzil. O negociante Julião
Sampaio, que lhe servia de ordenança, caiu gravemente ferido. Mesmo assim,
Ávila não quis romper fogo. Redigiu uma nota ao Major Ramirez Hurtado
pedindo-lhe para entregar as armas e fazer a retirada do Posto para o Breu. “Quando
recebi a resposta que mal acabara de ler partiram das trincheiras peruanas tiros
de fuzil, vendo-me, então, forçado a trocar fogo”, atestou o Capitão Ávila.
“Rompeu
a fuzilaria de todas as linhas”, e durante “todo o dia 04 (novembro,
1904) travou-se um tiroteio cerrado”. No decorrer da noite, os brasileiros
consolidaram suas posições e abriram novas trincheiras. O cerco da praça
tornava-se mais estreito.
Um
piquete de 15 (quinze) civis deslocou-se para Nova Minas, no Rio Amônia, com o
objetivo de impedir a vinda de recursos peruanos (o piquete prendeu vários
homens que procuravam alcançar Nuevo Iquitos). De manhã, logo que a cerração se
esvaiu e o Sol começou a dardejar luz no cenário da luta, os brasileiros
avistaram a bandeira branca no mastro do acampamento, em substituição ao
estandarte peruano. Um silêncio profundo, depois do toque de alvorada, em ambas
as linhas, pairou nos ares do Amônia – o Seringal Minas Gerais, hoje Cidade de
Marechal Thaumaturgo, era agora território Acreano e Brasileiro.
Era o
fim da batalha: o emissário dos peruanos chegava a trincheira do Capitão Ávila
para solicitar armistício. Ao meio-dia foi assinada a Ata de Paz no barracão do
Seringal Minas Gerais, pelo Comandante brasileiro e o Major Ramirez Hurtado. No
dia seguinte, já de posse do acampamento peruano, o Capitão Ávila recebeu o
armamento e a munição. Vinte e quatro horas mais, os vencidos retiraram-se em
ubás, viajando pelo Juruá, no rumo do Ucayali.
No
dia08 (oito) de Novembro 1904 o Posto Fiscal do Ministério da Fazenda
instalava-se na Fozdo Amônia. Apesar de tudo, a saída dos peruanos foi marcada
por um traço de cordial respeito, de parte a parte.
VIVA A
MEMÓRIA DO CAPITÃO HERÓI, FRANCISCO D’ÁVILA E SILVA!
“Na trincheira da
vida e morte - Intrépido saiu vencedor - Fincou a bandeira da história - Com
sublime gesto, esplendor”.
MARECHAL THAUMATURGO EM SEUS PRIMEIROS ANOS DE VILLA |
Ao nos
inteirarmos sobre a história do comandante da conquista do nosso território,
vemos uma figura humana de serenidade e fidalguia sem igual. E ao analisarmos
um de nossos maiores patrimônios imateriais - o Hino de Marechal Thaumaturgo,
vemos o nosso primeiro Herói (que assim seja digno que o chamemos) mais
lembrado que nunca! Sim! Se a história esqueceu e o tempo levou suas ações e
suas conquistas, o compositor de nosso belo hino (Francisco Braz Rodrigues) o
eternizou, juntamente com outros audazes heróis (seringueiros e milatares),
para sempre!
Após
saber de seus atos de nobreza e generosidade, como não dizer que... “Com a coragem de seus ancestrais - Ao
lutar se mostraram viris - Desbravando e marcando com sangue - Os limites do
nosso brasi”l “Na trincheira da
vida e morte - Intrépido saiu vencedor”! “Envoltos no sol da vitória - Ergue o
peito, herói deslumbrado - Espulsando com honra o estrageiro - É obrasil por
seus filhos amado”.(...) que essas belas estrofes não fazem
referencia o nosso herói Capitão Francisco D’Ávilla e Silva?
Um
homem de serenidade e fidalguia sem igual, como já mencionado anterior, que
ganhou admiração até de seu adversário de batalha, o Major Ramirez Hurtado; que
ao partir para além da Foz do Rio Breu, após derrotado na Batalha do Amônia,
deixou uma carta ao nosso Capitão Herói Francisco D’Ávila e Silva:
“Suplico a Usted tenga la
bondad de manifestar a sus conciudadanos que antes de partir les agradezco
particularmente la distinción de aprecio que conservaran para el que tuvo el
honor de ser un año Comisario de este Río, que el de su parte va con la conciencia
tranquila porque jamás engañó en sus deliberaciones y actos de justicia. El día
4 de noviembre quedará como testimonio de que los hombres íntegros no saben
temer el peligro y que por conseguirte sus distinguidas atenciones serán para
mí un grande recuerdo que llevare al seno de mi familia. A Usted mi querido
amigo, le ofrezco, como siempre, mi más sincera amistad para que pueda ocuparse
con la confianza del verdadero amigo en el Callao Perú. Lleve a sus compañeros
en el Moa, mi saludo y manifiésteles que hago por la más estrecha paz en Brasil
y Peru”.
"Peço-lhe a gentileza de mostrar
seus compatriotas que antes de sair particularmente obrigado pela distinção de
apreciação retido para o qual teve a honra de ser um ano Comissário desse rio,
o de seu partido ir com a consciência limpa porque ele nunca enganou nas suas
deliberações e atos de justiça. A 04 de novembro permanecerá como testemunho de
que homens honestos não conhece o medo do perigo e que você irá obter as suas
atenções distintas para mim uma grande memória para levá-lo para o seio de
minha família. Para você, meu caro amigo, eu lhe oferecer, como sempre, a minha
mais sincera amizade para que possa lidar com confiança verdadeiro amigo em
Callao Peru. Leve os seus pares em Moa, a minha saudação e manifiésteles que
servem para a paz mais estreita no Brasil e no Peru. "
Major Ramirez Hurtado – Carta ao Capitão D’Ávila
Arquivo Histórico do Itamarati.
Por: Cleudon França.
Registro Fotográfico: Arquivo
Pessoal Cleudon França.
Referência Bibliográfica: TOCANTINS, Leandro. Formação Histórica do Acre, Volume I – Brasil – Brasília –
Senado Federal, Conselho Editorial, 2001. Com informações também do Blog
DESAFIANDO RIO-MAR.
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