“OS
ACONTECIMENTOS QUE ANTECEDERAM E DESENCADEARAM OS TRÊS DIAS DE LUTA ARMADA
ENTRE BRASILEIROS E PERUANOS QUE LIVRARAM O SERINGAL MINAS GERAIS – QUE UM DIA
FOI VILA E HOJE É O MUNICÍPIO DE MARECHAL THAUMATURGO; DO DOMÍNIO PERUANO”.
O FUNDADOR E A FUNDAÇÃO: MARECHAL THAUMATURGO GREGÓRIO DE AZEVEDO E O SERINGAL MINAS GERAIS - HOJE MUNICÍPIO DE MARECHAL THAUMATURGO. |
EPISÓDIOS
ANTECEDENTES
Em
1902, os jornais noticiavam um contrato firmado entre Bolívia e o Bolivian Sindicayte (empresa norte americana)
tirando-a o controle da exploração da borracha dos brasileiros. No entanto,
Plácido de Castro, que trabalhava na região como Engenheiro Agrimensor revoltou
com tal acordo e procurou seringalistas para fornecer resistência. Seringueiros
armados, treinados por Plácido de Castro enfrentaram e revidaram as invertidas
do exercito boliviano. A chamada “Revolução Acriana” findou no dia 24 de
janeiro de 1904, com vitória dos seringueiros brasileiros comandado por
Plácido. O Acre já não era mais boliviano, mas também ainda não era brasileiro.
Só com a intervenção diplomática do Barão de Rio Branco, que em 17 de Novembro
de 1903, assina, em nome do Brasil, o Tratado de Petrópolis com a Bolívia, que
cede suas pretensões de domínio da região. Agora sim, e, definitivamente o Acre
se torna integrante do Brasil. Porém, mas a oeste do Acre, os conflitos
aramados continuaram agora, com caucheiros peruanos...
O
CENÁRIO E O DESENCADEAMENTO DA LUTA ARMADA
O
ano era 1904. O cenário? O saudoso seringal Minas Gerais – Foz do Rio Amônia,
que um dia foi Vila e hoje é o Município de Marechal Thaumaturgo... Aquele que
lutou para ser Acreano, assim como o Acre lutou para ser Brasileiro! Tudo
começa com a ignoração do Governo Peruano ao Modus Vivendi, que instala uma aduana peruana na Foz do Rio Amônia,
chamada por eles por Eles de Nueva
Iquitos.
Por
meses, a tensão de um novo conflito armado se instalou nos seringais do Rio
Juruá... A maior tensão se voltava para o Seringal Minas Gerais, localizado nas
confluências do Rio Juruá e Rio Amônia; onde o Governo Peruano focalizava todas
suas forças.
No
dia 07 de Setembro de 1904, acontece um ultimo gesto amistoso entre Soldados
peruanos e brasileiros... Os soldados peruanos comandados pelo Major Ramirez Hurtado
oferece um almoço aos brasileiros em comemoração ao dia 07 de Setembro daquele
1904 (Independência do Brasil). A programação das comemorações teve inicio com
o entoamento do Hino Nacional Brasileiro, tocado pela orquestra sob a regência
do Professor Nogueira Júnior, com o hasteamento do pavilhão nacional. Compunha
ainda, além das autoridades militares peruanas e brasileiras a comissão dos
festejos do dia 07: Otavio Mendes, Julião Sampaio, Cleodulpho Antunes, Nogueira
Júnior, Geraldo Santos e Francisco Coelho. Os festejos incluíram ainda disputa
de tiros ao alvo de 250 metros com carabina winchester, com a participação de
31 cavalheiros, sendo o vencedor o Sr. José Rodrigues.
Dias
depois, especificamente no dia 05 de outubro, é apresentado mais um indício das
más vontades das tropas peruanas contra civis brasileiros, residentes na boca
do Rio Amônia – Seringal Minas Gerais. Antônio de Salles, empregado de José
Pereira de Salles; ao voltar de uma localidade próxima na sua canoa, foi
intimado a atracar no posto peruano, localizado as margens do Rio Amônia, sob
os gritos de: “atraca diablo”. Como ele não ouviu os gritos por estar distante
houve a tentativa de alvejá-lo ao serem disparados dois tiros de uma winchester.
O CORONEL THAUMATURGO GREGÓRIO DE AZEVEDO INTENDENTE
DO DEPARTAMENTO DO ALTO JURUÁ ENTRA EM AÇÃO.
Thaumaturgo
Gregório de Azevedo acabara de ser nomeado Intendente do Departamento do Alto
Juruá – Prefeito de Cruzeiro do Sul. Enquanto se ocupava em planejar a nova
cidade, com a segurança de quem já fora Governador dos Estados do Piauí e
Amazonas, Marechal Thaumaturgo recebera a má noticia: o Peru acabara de
instalar um posto aduaneiro na confluência dos Rios Juruá e Amônia, para cobrar
impostos da borracha que por ali passava e tivera, ainda, a ousadia de
denominar o local de Nuevo Iquitos.
A
notícia do que vinha ocorrendo ás margens do Rio Amônia, nas terras do Seringal
Minas Gerais – instalação da aduana peruana para recolhimento de impostos,
atentado armado contra civil brasileiro; apanhou o General de surpresa uma vez
que até então se tinha informações que os peruanos estavam se mantendo acima da
Foz do Rio Breu.
Com
a experiência de quem já havia trabalhado junto à Comissão encarregada de
demarcar a fronteira do Brasil com a Venezuela, o agora Marechal Thaumaturgo
Azevedo logo deduziu a estratégia do país vizinho (Peru): como os dois países
estavam preparando uma comissão mista para percorrer o Rio Juruá a fim de
demarcar os seus limites fronteiriços com base no direito de posse; assim, o
Peru avançava Brasil adentro a fim de consolidar novas posições.
Thaumaturgo
então com 51 anos de idade, homem trabalhador, de têmpera irascível, habituado
a confrontos ficou profundamente irritado com a atitude dos peruanos. Havia de
tomar medidas imediatas – para preservar o território do Departamento do Alto
Juruá, cuja gestão lhe fora confiada pelo próprio presidente da República.
Não
havia tempo suficiente para comunicar-se com a Capital Federal, o Rio de
Janeiro, e aguardar providências. Era necessário agir logo. Tinha, porém, um
grande problema pela frente, pois a guarnição da tropa federal a sua disposição
era composta de poucos homens e, mesmo assim não havia como transportá-los até
a Foz do Rio Amônia (Seringal Minas Gerais), ou, Nueva Iquitos como queriam os
peruanos.
Enquanto
pensava em como enfrentar aquela situação tomou conhecimento de que no porto do
Seringal Invencível – hoje Cidade de Cruzeiro do Sul, estavam ancorados dois
navios o “O Moa” de propriedade da firma Melo & Cia, e “O Juruá” de
propriedade de uma casa aviadora de Belém as quais seriam suficientes para
levar as tropas para combater os peruanos. Cuidou, então, de encaminhar ofícios
aos comandantes de ambas as embarcações requisitando as mesmas com a
advertência de que só poderiam deixar o porto do referido seringal com seus
soldados.
O
que Thaumaturgo não esperava era a reação do comandante do navio “O Juruá”,
Alberto Serra Freire, que foi procurá-lo para dizer que não poria o “Gaiola” a
disposição da Prefeitura uma vez que já estava de baixada para Belém e que não
tinha combustível e nem rancho suficientes para atender a requisição. Mas o
General não lhe deu alternativas: o navio havia de fazer a viagem ainda que
tivesse de empregar a força para conduzi-lo.
No
dia seguinte os dois navios subiam o rio Juruá e seis dias depois chegaram à
foz do Amônia – Seringal Minas Gerais. A batalha do Amônia ou Guerra da
Trincheira, como ficou conhecido o episódio, durou três dias, findos os quais
os peruanos se renderam com a baixa de 09 (nove)mortes, enquanto do lado dos
brasileiros foi registrada uma morte e alguns feridos.
Através
do relato do farmacêutico Mário de Oliveira Lobão que embarcara em um dois
navios para atender eventuais feridos é possível ter uma visão bem precisa do confronto:
- Tinham
os peruanos no local 80 (oitenta) homens bem armados e municiados, dispondo de
metralhadoras sob as ordens do General Suarez, e, sob o comando do major Ramirez
Hurtado. Os dois “gaiolas - navios”
não puderam combinar um ataque à posição inimiga, devido a ter o “Môa”
encalhado e a dificuldades outras de navegação, em virtude da baixa das águas.
- Mas
o destacamento brasileiro em batelões e canoas penetrou os igarapés,
desembarcou e tomou posição para atacá-la por três lados: no seringal fronteiro,
Minas Gerais, na margem direita do Juruá e por trás de Nuevo Iquitos. Muitos
seringueiros armados reforçaram as 50 (cinquenta) praças de infantaria
(soldados brasileiros). O Capitão Francisco Ávila ficou no seringal, o tenente
Mateus na barranca do Juruá e o ex-Cadete da Escola Militar de Fortaleza, Oséas
Cardoso na terceira face do ataque. Intimados a capitular os peruanos recusaram
e começou o fogo de parte a parte, que durou até às 5 horas da manhã do dia 05
de Novembro. Então cercado e maltratado pela fuzilaria certeira dos
seringueiros, o Major Ramirez Hurtado rendeu-se com as honras da guerra recolhendo-se ao Departamento de
Loreto. Os peruanos perderam 09 (nove) homens e tiveram muitos feridos. Os
brasileiros perderam somente um e tiveram poucos feridos”.
Cinco
anos depois, em setembro de 1909, Brasil e Peru assinaram o Tratado do Rio de
Janeiro fixando os atuais limites fronteiriços, entre os dois países.
112 ANOS DEPOIS... O PALCO DA HISTÓRICA
BATALHA É AGORA CIDADE DE MARECHAL THAUMATURGO!
No
próximo dia 05 de Novembro, a “Batalha do Amônia” ou a “Guerra da Trincheira”
como é conhecida pelos moradores locais; completa 112 (cento e doze) anos de
história.
De
1904 a 2016 o cenário é outro, as conquistas são outras. O Seringal Minas
Gerais ficou no passado, o presente é reservado ao Município de Marechal
Thaumaturgo, uma homenagem ao seu fundador.
Foi
um longo caminho até conseguir sua Emancipação Politica e Administrativa, 88 (oitenta
e oito) anos depois, em 1992.
De
Seringal passou a ser DISTRITO THAUMATURGO em
1905, oficializado pelo decreto municipal de Nº. 39, de 11 de Julho de 1906,subordinado
ao Departamento do Alto Juruá. Pelo decreto-lei estadual Nº. 43, de 29 de março
de 1938, o DISTRITO DE THAUMATURGO deixa de pertencer ao Departamento de Juruá
para ser anexado ao Município de Cruzeiro do Sul. É elevado à categoria de
MUNICÍPIO com a DENOMINAÇÃO DE MARECHAL THAUMATURGO. Sendo criado e não
instalado. Situação mudada com divisão territorial de 1988; aonde o Distrito
Thaumaturgo é elevado definitivamente à categoria de MUNICÍPIO com a DENOMINAÇÃO
DE MARECHAL THAUMATURGO pela lei estadual Nº. 1029, de 28 de abril de 1992
(sancionada pelo Governador Edmundo Pinto, um mês antes de ser assassinado)
desmembrando-se de Cruzeiro do Sul. É Instalado oficialmente no dia em 01 de
Janeiro de 1993.
QUEM FOI THAUMATURGO GREGÓRIO DE AZEVEDO
Thaumaturgo Gregório de
Azevedo (1896/1979) é pernambucano, nascido no que é hoje o município
de Igarassu (Região
Metropolitana de Pernambuco).
Seu nome original
é João Thaumaturgo de Albuquerque, filho de Epitácio Figueiredo Albuquerque (1867/1932), português e Maria Taumaturgo de Albuquerque (1880/1918), portuguesa, filha de João Fidélis Taumaturgo e Maria Estelina Silva. O nome de sua mãe é grafado Taumaturgo, mas seu
registro foi efetivado como Thaumaturgo, inserindo-se a letra "h".
Ele nasceu em 1896 e
tinha apenas um irmão que tornou-se padre e também deixou o interior do Pernambuco,
radicando-se, primeiro em São Paulo e depois no Rio de Janeiro. Seu irmão era o padre
Joaquim Taumaturgo de Albuquerque, nascido em 1902 e falecido em 1979.
Marechal Thaumaturgo
faleceu no mesmo ano do irmão, apesar de nunca mais terem se encontrado.
NOTA DO AUTOR DO ARTIGO
Quando
ingressei no primeiro período do Curso de Jornalismo/Comunicação Social – Turma
de 2011, na Universidade Federal do Acre (UFAC Rio Branco), ao cursar uma
determinada Disciplina (Psicologia Social), ouvi do grande mestre Enock
Pessoa que o Município de Marechal Thaumaturgo, tinha uma das mais ricas
história dos municípios acreanos; tinha lutado para ser acreano assim como o
Acre lutou para ser brasileiro.
Desde
então, me empenhei em pesquisar publicações e demais registros da histórica
luta armada entre brasileiros e peruanos, ocorrida nas margens do Rio Amônia, que
ficou conhecida como a “Batalha do Amônia” ou “A Guerra da Trincheira”.
Tal
acontecimento é tido pelos Thaumaturguenses como algo grandioso e fonte de
muito orgulho, porém, não se tinha nenhum registro ou publicação local do
referido acontecimento. Documento publicado agora, nesse blog, no intuito maior
de tornar conhecido e ciente de todos; o episódio mais marcante da história de
nossa municipalidade.
O
que aqui consta, são resultados de pesquisas em obras publicadas sobre o
referido episódio; Livros e artigos. Não realizei pesquisa de campo, não
entrevistei cidadãos mais antigos da cidade... Limitei-me apenas no que já foi
publicado por grandes e reconhecidos nomes da área (historiadores,
pesquisadores, poetas e professores).
Eis
o resultado! É a publicação de um leigo que tenta resgatar, viver e registrar a história desse recanto do Brasil, amado e idolatrado
por uns, e, esquecido e subjugados por outros.
ESTÁTUA DE THAUMATURGO GREGÓRIO DE AZEVEDO - EXPOSTA NA ENTRADA DA AVENIDA MÂNCIO LIMA EM CRUZEIRO DO SUL. |
SERINGAL MINAS GERAIS NOS ANOS 1904/1910 - HOJE MUNICÍPIO DE MARECHAL THAUMATURGO: PALCO DA BATALHA |
LOCAL ATUAL ONDE FOI INSTALADA A ADUANA PERUANA DENOMINADA POR ELES DE NUEVO INQUITOS |
CIDADE DE MARECHAL THAUMATURGO - DIAS ATUAIS (2010/2013) |
VISTA FRONTAL DE MARECHAL THAUMATURGO - DIAS ATUAIS |
O FUNDADOR E A FUNDAÇÃO |
VILLA THAUMATURGO - ANOS 80 |
VILA THAUMATURGO - ANOS 80 |
BANDEIRA DE MARECHAL EXPOSTA N APRAÇA MUNICIPAL ODOM DO VALE - NAS COMEMORAÇÕES DO 20º ANIVERSÁRIO DE EMANCIPAÇÃO |
O FUNDADOR E A FUNDAÇÃO: THAUMATURGO DE AZEVEDO E O MUNICÍPIO DE MARECHAL THAUMATURGO |
O MARECHAL THAUMATURGO GREGÓRIO DE AZEVEDO |
MEDALHA EM HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO MARECHAL THAUMATURGO GREGÓRIO DE AZEVEDO. |
O MARECHAL THAUMATURGO GREGÓRIO DE AZEVEDO |
VILLA THAUMATURGO - ANOS 80 |
VILA THAUMATURGO - ANOS 80: NOVENÁRIO EM HONRAS A SÃO SEBASTIÃO |
MUNICÍPIO DE MARECHAL THAUMATURGO NOS DIAS ATUAIS - 112 ANOS DEPOIS DA BATALHA DO AMÔNIA: 2016 |
“Sobre o orvalho da noite
estrelada, voluntários da pátria em ação; na defesa de seus ideais, com a luta
de armas na mão... Na trincheira da vida e da morte intrépido saiu vencedor!
Ficou a bandeira da história, com sublime gesto e esplendor”.Trecho do Hino de Marechal
Thaumaturgo – Letra de Francisco Braz e Melodia de Gedeão Cavalcante.
POR: CLEUDON FRANÇA.
PHOTOS:
LUCÉLIA FROTA, CLEUDON FRANÇA E GOOGLE IMAGENS.
OBRAS/FONTES
PESQUISADAS: LIVRO“TRABALHADORES DA
FLORESTA DO ALTO JURUÁ – CULTURA E CIDADANIA NA AMAZÔNIA” DE ENOCK PESSOA. LIVRO/ARTIGO
“O PAPEL DECISIVO DO MARECHAL THAUMATURGO DE AZEVEDO NA QUESTÃO DO ACRE” DE
MANUEL ONOFRE. ARTIGO“A BATALHA DO AMÔNIA” DE ARQUILAU CASTRO MELO.ALÉM DE
BLOGS E SITE REGIONAIS E ESTADUAIS.
Sou bisneta do Thaumaturgo, ele era avô de minha mãe. Seu nome não era Thaumaturgo Gregorio, e sim Gregorio Thaumaturgo. No mais, seu artigo é muito interessante!
ResponderExcluirEleonora
Olá. Somos da cidade de Barras no Piauí, terra natal de Gregório. Gostaríamos de contactar você, pois almejamos a criação de um museu aqui na cidade.
ExcluirHá outros erros também, Eleonora. Ele nasceu em 1853 e faleceu em 1921. Estou escrevendo uma dissertação sobre a gestão do seu bisavô na Cruz Vermelha Brasileira e conheço a biografia dele.
ResponderExcluirTem tantos erros sobre Gregório Thaumaturgo de Azevedo. Olha, eu sou natural de Barras no Estado do Piauí, terra natal de Thaumaturgo de Azevedo. Tem erros demais, por favor revejam esse texto.
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