Ter que explicar uma homenagem, como a feita pelo
Vasco ao Flamengo, nesta quarta-feira, contra o Resende, é o que faz dela
importante. É como dizer ‘eu te amo’ para alguém e ter que justificar em
seguida, como se demonstração de afeto fosse crime. E, no Brasil, às vezes,
realmente parece ser. Por isso precisa ser combatido.
Se fosse óbvia, a homenagem, não seria tão grande.
É exatamente o inesperado que faz dela especial. A incapacidade de alguns –
poucos – em ver na bandeira rubro-negra o rosto dos meninos do Ninho e não um
símbolo adversário é o que faz do ato tão relevante: as pessoas estão cegas.
Quebrar o peso da rivalidade era o mínimo que o
clube, que já havia disponibilizado psicólogos e assistentes sociais para
ajudar os familiares das vítimas, poderia fazer em tempos tão complicados.
Porque o peso do tributo é exatamente este: o Vasco e o Flamengo, juntos, num
raro momento em mais de 100 anos. E se não fosse em uma tragédia absurda e
dolorosa como essa, em mais nada seria. Que exemplo dariam à sociedade?
A frase clichê “Não é só futebol” nunca foi tão
óbvia. No Vasco, nunca foi só isso. E se tem algo que orgulha o seu torcedor é
essa capacidade do clube olhar além da bola e de sentir além da casca, de forma
muito mais profunda do que uma simples camisa possa tocar.
Se o Vasco fosse uma pessoa, um velho português
criado em São Cristóvão, casado com uma pernambucana que mora na Tijuca, mas de
família alagoana, primos baianos e sotaque capixaba, não me espantaria se ele
entrasse em campo com uma camisa vermelha e preta e os olhos marejados por não
ter tido tempo para sentar com aqueles garotos e comido alguns bolinhos de
bacalhau após um dia de treino.
A surpresa deveria estar na indiferença, não na
empatia.
Foi um ato simbólico, diferente, inimaginável –
para alguns – até então, e, por isso, importante e histórico. Não foi uma
mensagem apenas aos que se foram, mas os que ficaram e aos que ainda estão por
vir. Foi um pedido silencioso por paz e por energias mais positivas. O fato de
alguns não entenderem justifica automaticamente a sua necessidade.
Quem vai apurar responsabilidade é a Justiça. Por
ora, o que dá para fazer, é abraçar. E fazer isso com a instituição Flamengo –
não necessariamente com seus dirigentes -, é unificar em uma só imagem o
carinho que o Vasco – e tenho certeza que os vascaínos – gostariam de
transmitir às vítimas, familiares, funcionários, amigos e, claro, seus
torcedores. O que os une é exatamente a bandeira que carregam, por isso ela
representa a todos.
Infelizmente, ninguém mudará o passado, mas o
futuro é possível. Ainda que com pequenos gestos. Essa é a grande batalha. O
Vasco entendeu isso.
POR: CLEUDON
FRANÇA
TEXTO: ANDRÉ SCHMIDT DO BLOG DO VARONE