sexta-feira, 12 de março de 2021

O Herói Esquecido: Capitão Francisco D’ávila - O Comandante da Guerra da Trincheira/Batalha do Amônia.

 “O Personagem Esquecido da História... O Comandante da Luta Armada Contra os Peruanos Que Nos Tornou Acreanos e Brasileiros”. 

No dia 27 (vinte e sete) de outubro de 1904, o Navio Contreiras Moa zarpou de Cruzeiro do Sul, sede do Governo do Departamento do Alto-Juruá. No quinto dia de viagem, o Capitão Ávila recebeu aviso de que os peruanos, ao saberem que o Prefeito Thaumaturgo de Azevedo mandara instituir um Posto Fiscal no Amônia – Seringal Minas Gerais, estavam cavando trincheiras e erguendo fortificações para resistir.

Ávila acompanhado pelas 40 (quarenta) praças restantes, embrenhou-se na mata em manobra estratégica para evitar a passagem em frente ao acampamento peruano e atingir o Seringal Mississipi Novo, acima da Foz do Amônia.

O Capitão Ávila reforçou seu efetivo com alguns seringueiros, abriu diversas picadas, uma delas até a frente da força peruana e mandou seguir 20 (vinte) praças, sob o comando do Furriel José Rodrigues da Fonseca e 30 (trinta) civis dirigidos pelo ex-aluno da Escola Militar Oséias Cardoso, a fim de tomarem posição à esquerda e à retaguarda do Posto peruano, enquanto outras 6 (seis) praças e 8 (oito) civis iam ocupar uma trincheira em Vila Martins (margem direita do Juruá, defronte do sítio dos peruanos). Mais 16 (dezesseis) praças e 10 (dez) civis deslocaram-se por outras frentes de ataque nas proximidades do Minas Gerais, que se localiza um pouco abaixo do Foz do Amônia.

A disposição do terreno do acampamento peruano era boa para uma defesa militar. Estendia-se numa área de dois quilômetros de extensão por dois de largura, no ângulo formado pelo encontro do Amônia com o Juruá. Uma rua, com várias casas de madeira entre as quais se destacava o Quartel, seguia, a uma distância de 50 (cinquenta) metros, as margens do Rio captador, onde foram abertas inúmeras trincheiras para a defesa do Porto. À beira do Amônia, em terreno elevado, existiam outras trincheiras em forma de quadrilátero, sítio excelente para repelir ataques.

Pela madrugada do dia 04 (novembro, 1904), o Capitão Ávila e Silva partiu pelo varadouro, de Mississipi Novo em demanda do Amônia. Pouco depois, pelo Rio, baixaram o Tenente Guapindáia e seus prisioneiros, sendo, no caminho, chamados a fala por um piquete peruano que só os deixou ilesos por interferência do Alferes Ramirez (peruano), usado como refém. Pôde, assim, o grupo desembarcar no Seringal Minas Gerais (margem direita do Amônia e esquerda do Juruá). Há essa hora, o cerco do acampamento peruano estava completo.

O Capitão Ávila, inspecionando as forças acantonadas em Vila Martins, foi o primeiro a receber uma salva de 10 (dez) tiros de fuzil. O negociante Julião Sampaio, que lhe servia de ordenança, caiu gravemente ferido. Mesmo assim, Ávila não quis romper fogo. Redigiu uma nota ao Major Ramirez Hurtado pedindo-lhe para entregar as armas e fazer a retirada do Posto para o Breu. “Quando recebi a resposta que mal acabara de ler partiram das trincheiras peruanas tiros de fuzil, vendo-me, então, forçado a trocar fogo”, atestou o Capitão Ávila.

Rompeu a fuzilaria de todas as linhas”, e durante “todo o dia 04 (novembro, 1904) travou-se um tiroteio cerrado”. No decorrer da noite, os brasileiros consolidaram suas posições e abriram novas trincheiras. O cerco da praça tornava-se mais estreito.

Um piquete de 15 (quinze) civis deslocou-se para Nova Minas, no Rio Amônia, com o objetivo de impedir a vinda de recursos peruanos (o piquete prendeu vários homens que procuravam alcançar Nuevo Iquitos). De manhã, logo que a cerração se esvaiu e o Sol começou a dardejar luz no cenário da luta, os brasileiros avistaram a bandeira branca no mastro do acampamento, em substituição ao estandarte peruano. Um silêncio profundo, depois do toque de alvorada, em ambas as linhas, pairou nos ares do Amônia – o Seringal Minas Gerais, hoje Cidade de Marechal Thaumaturgo, era agora território Acreano e Brasileiro.

Era o fim da batalha: o emissário dos peruanos chegava a trincheira do Capitão Ávila para solicitar armistício. Ao meio-dia foi assinada a Ata de Paz no barracão do Seringal Minas Gerais, pelo Comandante brasileiro e o Major Ramirez Hurtado. No dia seguinte, já de posse do acampamento peruano, o Capitão Ávila recebeu o armamento e a munição. Vinte e quatro horas mais, os vencidos retiraram-se em ubás, viajando pelo Juruá, no rumo do Ucayali.

No dia 08 (oito) de Novembro 1904 o Posto Fiscal do Ministério da Fazenda instalava-se na Foz do Amônia. Apesar de tudo, a saída dos peruanos foi marcada por um traço de cordial respeito, de parte a parte.

Ao nos inteirarmos sobre a história do comandante da conquista do nosso território, vemos uma figura humana de serenidade e fidalguia sem igual. Um homem que ganhou admiração até de seu adversário de batalha, o Major Ramirez Hurtado; que ao partir para além da Foz do Rio Breu, após derrotado na Batalha do Amônia, deixou uma carta ao nosso Capitão Herói Francisco D’Ávila e Silva:

“Suplico a Usted tenga la bondad de manifestar a sus conciudadanos que antes de partir les agradezco particularmente la distinción de aprecio que conservaran para el que tuvo el honor de ser un año Comisario de este Río, que el de su parte va con la conciencia tranquila porque jamás engañó en sus deliberaciones y actos de justicia. El día 4 de noviembre quedará como testimonio de que los hombres íntegros no saben temer el peligro y que por conseguirte sus distinguidas atenciones serán para mí un grande recuerdo que llevare al seno de mi familia. A Usted mi querido amigo, le ofrezco, como siempre, mi más sincera amistad para que pueda ocuparse con la confianza del verdadero amigo en el Callao Perú. Lleve a sus compañeros en el Moa, mi saludo y manifiésteles que hago por la más estrecha paz en Brasil y Peru”. Major Ramirez Hurtado – Carta ao Capitão D’Ávila (Arquivo Histórico do Itamarati).

Por: Cleudon França (Jornalistafranca@gmail.com).

Registro Fotográfico: Arquivo Pessoal -Autoria Desconhecida.

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