“O Personagem Esquecido da História... O Comandante da Luta Armada Contra os Peruanos Que Nos Tornou Acreanos e Brasileiros”.
No dia 27 (vinte e sete) de
outubro de 1904, o Navio Contreiras Moa zarpou de Cruzeiro do Sul, sede do
Governo do Departamento do Alto-Juruá. No quinto dia de viagem, o Capitão Ávila
recebeu aviso de que os peruanos, ao saberem que o Prefeito Thaumaturgo de
Azevedo mandara instituir um Posto Fiscal no Amônia – Seringal Minas Gerais,
estavam cavando trincheiras e erguendo fortificações para resistir.
Ávila acompanhado pelas 40
(quarenta) praças restantes, embrenhou-se na mata em manobra estratégica para
evitar a passagem em frente ao acampamento peruano e atingir o Seringal
Mississipi Novo, acima da Foz do Amônia.
O Capitão Ávila reforçou seu
efetivo com alguns seringueiros, abriu diversas picadas, uma delas até a frente
da força peruana e mandou seguir 20 (vinte) praças, sob o comando do Furriel
José Rodrigues da Fonseca e 30 (trinta) civis dirigidos pelo ex-aluno da Escola
Militar Oséias Cardoso, a fim de tomarem posição à esquerda e à retaguarda do
Posto peruano, enquanto outras 6 (seis) praças e 8 (oito) civis iam ocupar uma
trincheira em Vila Martins (margem direita do Juruá, defronte do sítio dos
peruanos). Mais 16 (dezesseis) praças e 10 (dez) civis deslocaram-se por outras
frentes de ataque nas proximidades do Minas Gerais, que se localiza um pouco
abaixo do Foz do Amônia.
A disposição do terreno do
acampamento peruano era boa para uma defesa militar. Estendia-se numa área de
dois quilômetros de extensão por dois de largura, no ângulo formado pelo
encontro do Amônia com o Juruá. Uma rua, com várias casas de madeira entre as
quais se destacava o Quartel, seguia, a uma distância de 50 (cinquenta)
metros, as margens do Rio captador, onde foram abertas inúmeras trincheiras
para a defesa do Porto. À beira do Amônia, em terreno elevado, existiam outras
trincheiras em forma de quadrilátero, sítio excelente para repelir ataques.
Pela madrugada do dia 04
(novembro, 1904), o Capitão Ávila e Silva partiu pelo varadouro, de Mississipi
Novo em demanda do Amônia. Pouco depois, pelo Rio, baixaram o Tenente
Guapindáia e seus prisioneiros, sendo, no caminho, chamados a fala por um
piquete peruano que só os deixou ilesos por interferência do Alferes Ramirez
(peruano), usado como refém. Pôde, assim, o grupo desembarcar no Seringal Minas
Gerais (margem direita do Amônia e esquerda do Juruá). Há essa hora, o cerco do
acampamento peruano estava completo.
O Capitão Ávila, inspecionando as
forças acantonadas em Vila Martins, foi o primeiro a receber uma salva de
10 (dez) tiros de fuzil. O negociante Julião Sampaio, que lhe servia de
ordenança, caiu gravemente ferido. Mesmo assim, Ávila não quis romper fogo.
Redigiu uma nota ao Major Ramirez Hurtado pedindo-lhe para entregar as armas e
fazer a retirada do Posto para o Breu. “Quando recebi a resposta que mal
acabara de ler partiram das trincheiras peruanas tiros de fuzil, vendo-me,
então, forçado a trocar fogo”, atestou o Capitão Ávila.
“Rompeu a fuzilaria de todas
as linhas”, e durante “todo o dia 04 (novembro, 1904) travou-se um
tiroteio cerrado”. No decorrer da noite, os brasileiros consolidaram suas posições
e abriram novas trincheiras. O cerco da praça tornava-se mais estreito.
Um piquete de 15 (quinze) civis
deslocou-se para Nova Minas, no Rio Amônia, com o objetivo de impedir a vinda
de recursos peruanos (o piquete prendeu vários homens que procuravam alcançar
Nuevo Iquitos). De manhã, logo que a cerração se esvaiu e o Sol começou a
dardejar luz no cenário da luta, os brasileiros avistaram a bandeira branca no
mastro do acampamento, em substituição ao estandarte peruano. Um silêncio
profundo, depois do toque de alvorada, em ambas as linhas, pairou nos ares do
Amônia – o Seringal Minas Gerais, hoje Cidade de Marechal Thaumaturgo, era
agora território Acreano e Brasileiro.
Era o fim da batalha: o emissário
dos peruanos chegava a trincheira do Capitão Ávila para solicitar armistício.
Ao meio-dia foi assinada a Ata de Paz no barracão do Seringal Minas Gerais,
pelo Comandante brasileiro e o Major Ramirez Hurtado. No dia seguinte, já de
posse do acampamento peruano, o Capitão Ávila recebeu o armamento e a munição.
Vinte e quatro horas mais, os vencidos retiraram-se em ubás, viajando pelo
Juruá, no rumo do Ucayali.
No dia 08 (oito) de Novembro 1904
o Posto Fiscal do Ministério da Fazenda instalava-se na Foz do Amônia. Apesar
de tudo, a saída dos peruanos foi marcada por um traço de cordial respeito, de
parte a parte.
Ao nos inteirarmos sobre a
história do comandante da conquista do nosso território, vemos uma figura
humana de serenidade e fidalguia sem igual. Um homem que ganhou admiração até
de seu adversário de batalha, o Major Ramirez Hurtado; que ao partir para além
da Foz do Rio Breu, após derrotado na Batalha do Amônia, deixou uma carta ao
nosso Capitão Herói Francisco D’Ávila e Silva:
“Suplico a Usted tenga la bondad de manifestar a sus conciudadanos que antes de partir les agradezco particularmente la distinción de aprecio que conservaran para el que tuvo el honor de ser un año Comisario de este Río, que el de su parte va con la conciencia tranquila porque jamás engañó en sus deliberaciones y actos de justicia. El día 4 de noviembre quedará como testimonio de que los hombres íntegros no saben temer el peligro y que por conseguirte sus distinguidas atenciones serán para mí un grande recuerdo que llevare al seno de mi familia. A Usted mi querido amigo, le ofrezco, como siempre, mi más sincera amistad para que pueda ocuparse con la confianza del verdadero amigo en el Callao Perú. Lleve a sus compañeros en el Moa, mi saludo y manifiésteles que hago por la más estrecha paz en Brasil y Peru”. Major Ramirez Hurtado – Carta ao Capitão D’Ávila (Arquivo Histórico do Itamarati).
Por: Cleudon França (Jornalistafranca@gmail.com).
Registro Fotográfico: Arquivo Pessoal -Autoria Desconhecida.
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