quarta-feira, 11 de julho de 2018

GUARDOU SUA DOR E FOI CUIDAR DOS OUTROS


"São saudades de um mundo contente feito céu estrelado. Feito flor abraçada por borboleta. Feito café da tarde com bolinho de chuva. Onde a gente se sente tranquilo como se descansasse num cafuné. Onde, em vez de nos orgulharmos por carregar tanto peso, a gente se orgulha por ser capaz de viver com mais leveza."

Ele estava ali no canto, quietinho, calado, olhando para os próprios pés, esperando que alguém se lembrasse de sua presença e fosse perguntar como foi seu dia, o que havia feito e se a vida tinha deixado de ser um pouco menos cinzenta. Havia tanta coisa a dizer, tantas vontades para compartilhar, tantos medos para confessar, porém sabia que seria mais um momento daqueles onde todos passam e a tratam como se ele fosse a menino que entrega folhetos na rua que as pessoas só sabem ignorar.
Eles se diziam amigos para qualquer hora, que eram íntimos, almas gêmeas, porém ela era os ouvidos e os outros eram as bocas, todos só sabiam falar e falar de suas próprias vidas enquanto ela esperava alguém se importar com a dela. Eram tantas as festas, os namoros, os términos, os problemas com os pais, e ele ouvia porque poderia se esquecer de si mesmo e tentar ajudar os outros.
E uma coisa sobre ele: sempre gostou mais de ouvir do que de falar. Sentia um prazer estranho em ficar mudo enquanto alguma pessoa desabava sua alma sobre a dele, então ele ouvia tudo, fazia comentários breves, então quando a pessoa parasse para respirar e enxugar alguma lágrima que saiu sem avisar, ele pedia a Deus sabedoria para falar aquilo que o Senhor gostaria que esse alguém ouvisse, e dizia respostas satisfatórias para as perguntas que viviam se refazendo.
Seu coração tinha um imã que chamava para si todos aqueles que precisavam se abrir, e ele ouvia como se não tivesse problema nenhum para resolver e que sua vida fosse a mais fácil e bonita. Ele adorava como os outros tinham confiança nele e por isso não se importava tanto em ser deixado de lado, em se esquecer por minutos, horas ou dias dependendo do caso que a pessoa apresentasse.
E tudo isso porque acredita que enquanto usava seu tempo para ajudar os outros, Deus está curando tudo que a faz chorar enquanto se esconde dentro do cobertor. Ele só quer levar a paz que as pessoas precisam, o amor que lhes falta no dia-a-dia, a compressão que não recebem, porque ele sabe como é se sentir sem ninguém, sem importância e sem sentido.
Então ele fica encolhido no próprio sufoco com medo de se afogar nas palavras não ditas, orando para encontrar alguém que a faça se sentir confortável como ele faz os outros se sentirem, ele sabe que muitos destes estão dispostos a ouvi-lo porque eles simplesmente não a usam para um único fim, alguns são de fato amigos mesmo que a abandonem uma vez ou outra, é que a obscuridade que ele carrega pode assustar e fazer que todos se afastem.
Por isso ele prefere se guardar no bolso de um casaco que não sai do guarda-roupa do que retirar as máscaras e as armaduras, para não se mostrar vulnerável como todo mundo, uma pessoa que erra, que chora, que ás vezes quer morrer, porque não gosta da ideia de ser uma lembrança triste na vida de alguém, ele quer ser Sol e não um buraco negro.
Porque ele conhece a dor e sabe que ela passa quando menos se espera, ás vezes ela dura muito, porém nunca é eterna. Enquanto isso vai catando os cacos do coração dos outros, vai colando as partes, botando tudo no lugar, deixando um pouco com a cara do que era antes do furacão passar, porque ele se sente imensamente feliz em ouvir, em acolher, em abraçar com palavras, apenas queria ter uma pessoa que fizesse tudo isso em troca, que lhe desse o amor que ele precisa, mas ele que tem medo de pedir e parecer fraco.
A todos os leitores e amigos uma ótima semana!


By Cleudon França

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