"São
saudades de um mundo contente feito céu estrelado. Feito flor abraçada por
borboleta. Feito café da tarde com bolinho de chuva. Onde a gente se sente
tranquilo como se descansasse num cafuné. Onde, em vez de nos orgulharmos por
carregar tanto peso, a gente se orgulha por ser capaz de viver com mais
leveza."
Ele estava ali no canto,
quietinho, calado, olhando para os próprios pés, esperando que alguém se
lembrasse de sua presença e fosse perguntar como foi seu dia, o que havia feito
e se a vida tinha deixado de ser um pouco menos cinzenta. Havia tanta coisa a dizer,
tantas vontades para compartilhar, tantos medos para confessar, porém sabia que
seria mais um momento daqueles onde todos passam e a tratam como se ele fosse a
menino que entrega folhetos na rua que as pessoas só sabem ignorar.
Eles se diziam amigos para
qualquer hora, que eram íntimos, almas gêmeas, porém ela era os ouvidos e os
outros eram as bocas, todos só sabiam falar e falar de suas próprias vidas
enquanto ela esperava alguém se importar com a dela. Eram tantas as festas, os
namoros, os términos, os problemas com os pais, e ele ouvia porque poderia se
esquecer de si mesmo e tentar ajudar os outros.
E uma coisa sobre ele: sempre
gostou mais de ouvir do que de falar. Sentia um prazer estranho em ficar mudo
enquanto alguma pessoa desabava sua alma sobre a dele, então ele ouvia tudo,
fazia comentários breves, então quando a pessoa parasse para respirar e enxugar
alguma lágrima que saiu sem avisar, ele pedia a Deus sabedoria para falar
aquilo que o Senhor gostaria que esse alguém ouvisse, e dizia respostas
satisfatórias para as perguntas que viviam se refazendo.
Seu coração tinha um imã que
chamava para si todos aqueles que precisavam se abrir, e ele ouvia como se não
tivesse problema nenhum para resolver e que sua vida fosse a mais fácil e bonita.
Ele adorava como os outros tinham confiança nele e por isso não se importava
tanto em ser deixado de lado, em se esquecer por minutos, horas ou dias
dependendo do caso que a pessoa apresentasse.
E tudo isso porque acredita
que enquanto usava seu tempo para ajudar os outros, Deus está curando tudo que
a faz chorar enquanto se esconde dentro do cobertor. Ele só quer levar a paz
que as pessoas precisam, o amor que lhes falta no dia-a-dia, a compressão que
não recebem, porque ele sabe como é se sentir sem ninguém, sem importância e
sem sentido.
Então ele fica encolhido no
próprio sufoco com medo de se afogar nas palavras não ditas, orando para
encontrar alguém que a faça se sentir confortável como ele faz os outros se
sentirem, ele sabe que muitos destes estão dispostos a ouvi-lo porque eles
simplesmente não a usam para um único fim, alguns são de fato amigos mesmo que
a abandonem uma vez ou outra, é que a obscuridade que ele carrega pode assustar
e fazer que todos se afastem.
Por isso ele prefere se
guardar no bolso de um casaco que não sai do guarda-roupa do que retirar as
máscaras e as armaduras, para não se mostrar vulnerável como todo mundo, uma
pessoa que erra, que chora, que ás vezes quer morrer, porque não gosta da ideia
de ser uma lembrança triste na vida de alguém, ele quer ser Sol e não um buraco
negro.
Porque ele conhece a dor e
sabe que ela passa quando menos se espera, ás vezes ela dura muito, porém nunca
é eterna. Enquanto isso vai catando os cacos do coração dos outros, vai colando
as partes, botando tudo no lugar, deixando um pouco com a cara do que era antes
do furacão passar, porque ele se sente imensamente feliz em ouvir, em acolher,
em abraçar com palavras, apenas queria ter uma pessoa que fizesse tudo isso em
troca, que lhe desse o amor que ele precisa, mas ele que tem medo de pedir e
parecer fraco.
A todos os leitores e amigos uma ótima
semana!
By Cleudon
França
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